Este texto
é inspirado na palestra proferida por Anajara Carbonell no dia 31 de outubro de
2013, no Auditório 1 da FABICO/UFRGS, na disciplina de Museologia no Mundo
Contemporâneo. Busca responder à
questão: Quais os desafios para os
futuros profissionais de museus pensar a acessibilidade dos espaços culturais
no Mundo Contemporâneo?
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Acessibilidade |
A informação e a cultura tornam possíveis a cada
cidadão construir conhecimentos e desenvolver crítica e autonomia, sendo isso viável
apenas quando há democracia presente no seu acesso. Qualquer pessoa tem
potencial e capacidade para amar, criar, educar, interagir e transformar, sendo
apenas necessário que o meio ao qual está inserida seja acessível, lhe
oferecendo um ambiente adequado e, principalmente, que as pessoas a sua volta
tenham enraizado dentro de si a noção de como é importante a participação
daquele cidadão e de como ele pode fazer a diferença. Nossa história está
repleta de exclusão, preconceitos e barreiras, já está na hora de incluirmos.
Nesse contexto, surge a preocupação de que nos
museus, vistos como locais de interação humana e disseminação de conhecimentos
e cultura, a acessibilidade esteja presente como uma questão de planejamento,
levada em consideração antes de cada tomada de decisão. A acessibilidade, no
Brasil, deixou de ser apenas uma questão de bom-senso, no sentido de que, se
antes era tratada de forma superficial e apenas por uma parcela da população
que demonstrava interesse pelo assunto, hoje é vista como uma questão oficialmente
pública, como mostra o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência:
O Brasil tem avançado na
implementação dos apoios necessários ao pleno e efetivo exercício da capacidade
legal por todas e cada uma das pessoas com deficiência. Ou seja, cada vez mais
nos empenhamos na equiparação de oportunidades para que a deficiência não seja
utilizada como motivo de impedimento à realização dos sonhos, dos desejos, dos
projetos, valorizando e estimulando o protagonismo e as escolhas das brasileiras
e dos brasileiros com e sem deficiência. (BRASIL, 2011, p. 2).
A acessibilidade, em linhas gerais, se subdivide
em:
a) Arquitetônica:
relacionada a um espaço sem barreiras ambientais e físicas em todos os recintos
internos e externos;
b)
Mobiliário e
Equipamentos: relacionada à segurança e acesso autônomo e independente das
pessoas;
c)
Comunicacional:
compreende o uso de comunicação visual, sonora e tátil;
d)
Informacional:
compreende o acesso às informações.
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Santander Cultural |
Umas das questões mais complicadas ao tratarmos a
acessibilidade no caso dos museus é que muitos desses espaços encontram-se
instalados em prédios tombados pelos órgãos competentes. Essa condição impede a
modificação estrutural do ambiente, dificultando tornar acessível aquele
espaço. Alguns museus adotam estratégias alternativas, como o Santander
Cultural, em Porto Alegre, que possui uma entrada lateral. No entanto, pode
haver críticas com relação a essa prática, pois algumas pessoas poderiam se
sentir incomodadas em ter que entrar por esse acesso, acreditando que todos
devem acessar o prédio pela porta da frente.
Encontramos em muitos museus a falta de mobiliário
adaptado, tanto para o desenvolvimento de suas atividades administrativas, como
para o atendimento de deficientes. Sua iluminação é insuficiente e falta sinalização
visual, sonora e Braile. Seu corpo funcional, levando-se em conta que é um
espaço de cultura e cidadania, deveria estar apto para realizar atendimento em
Língua Brasileira de Sinais (Libras), mas geralmente não está. As dificuldades
acima citadas decorrem, em parte, do descaso dos governantes para com os museus
e do pequeno repasse de verba para a manutenção e melhoria desses ambientes.
Por esse motivo é que os museus, principalmente os públicos, encontram-se em
condições distantes dos ideais de acessibilidade.
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Pensar a acessibilidade |
Algo a ser destacado na busca pela acessibilidade
dos museus é o potencial dos estudos de público desses espaços, pois através
dessas pesquisas podemos averiguar de que modo eles interagem com o ambiente e
com os funcionários do museu, identificando quais os pontos fracos dessas
interações. Outra ferramenta importantíssima que pode guiar o museólogo é a NBR
9050, norma de 2004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que
aborda a acessibilidade às edificações, aos mobiliários, bem como aos espaços e
equipamentos urbanos. No entanto, nenhuma dessas ferramentas auxiliará um
museólogo que não esteja preparado para lidar com a acessibilidade e,
principalmente, que não a tenha como princípio. Nesse sentido, mais do que
rampas, elevadores, pisos táteis e lupas, estamos tratando do museólogo
enquanto gestor, tendo uma postura profissional que leve em conta a
acessibilidade em cada tomada de decisões.
É motivo de orgulho saber que o Brasil está se
tornando, pouco a pouco, mais acessível, além de apoiar a construção de
sistemas educacionais inclusivos. Nosso país é considerado, segundo o padrão
capitalista moderno, como emergente, porém jamais alcançara níveis adequados de
desenvolvimento enquanto ainda tiver enraizado em seu interior qualquer forma
de exclusão, seja ela física, estrutural, intelectual ou atitudinal.
Tanto os temas inclusão social como acessibilidade
são cada vez mais tratados. Parece que apenas no final do século XX e início do
século XXI é que esses assuntos começaram a repercutir, tanto na mídia, nas
universidades, como na sociedade em geral. Apenas agora começamos a pensar nos deficientes
como cidadãos que têm direito e necessitam efetivamente pertencer à sociedade. O
museu, como uma instituição de circulação de informação, reflexão e produção de
conhecimento, não pode ignorar essa questão. O museólogo, enquanto agente
difusor da cultura, deve compreender a inclusão social e lutar pela sua
disseminação.
REFERÊNCIAS
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050 –
Acessibilidade a Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos. 2.
ed. Rio de Janeiro, 2004.
BRASIL. Viver Sem Limite: plano nacional dos
direitos das pessoas com deficiência. 2011. Disponível em: <http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-filefield-description%5D_0.pdf>. Acesso em: 07 nov. 2013.