quinta-feira, 7 de novembro de 2013

MUSEUS E MUSEÓLOGOS ACESSÍVEIS

Este texto é inspirado na palestra proferida por Anajara Carbonell no dia 31 de outubro de 2013, no Auditório 1 da FABICO/UFRGS, na disciplina de Museologia no Mundo Contemporâneo. Busca responder à questão: Quais os desafios para os futuros profissionais de museus pensar a acessibilidade dos espaços culturais no Mundo Contemporâneo?

Acessibilidade
A informação e a cultura tornam possíveis a cada cidadão construir conhecimentos e desenvolver crítica e autonomia, sendo isso viável apenas quando há democracia presente no seu acesso. Qualquer pessoa tem potencial e capacidade para amar, criar, educar, interagir e transformar, sendo apenas necessário que o meio ao qual está inserida seja acessível, lhe oferecendo um ambiente adequado e, principalmente, que as pessoas a sua volta tenham enraizado dentro de si a noção de como é importante a participação daquele cidadão e de como ele pode fazer a diferença. Nossa história está repleta de exclusão, preconceitos e barreiras, já está na hora de incluirmos.

Nesse contexto, surge a preocupação de que nos museus, vistos como locais de interação humana e disseminação de conhecimentos e cultura, a acessibilidade esteja presente como uma questão de planejamento, levada em consideração antes de cada tomada de decisão. A acessibilidade, no Brasil, deixou de ser apenas uma questão de bom-senso, no sentido de que, se antes era tratada de forma superficial e apenas por uma parcela da população que demonstrava interesse pelo assunto, hoje é vista como uma questão oficialmente pública, como mostra o Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência:

O Brasil tem avançado na implementação dos apoios necessários ao pleno e efetivo exercício da capacidade legal por todas e cada uma das pessoas com deficiência. Ou seja, cada vez mais nos empenhamos na equiparação de oportunidades para que a deficiência não seja utilizada como motivo de impedimento à realização dos sonhos, dos desejos, dos projetos, valorizando e estimulando o protagonismo e as escolhas das brasileiras e dos brasileiros com e sem deficiência. (BRASIL, 2011, p. 2).

A acessibilidade, em linhas gerais, se subdivide em:
a)     Arquitetônica: relacionada a um espaço sem barreiras ambientais e físicas em todos os recintos internos e externos;
b)      Mobiliário e Equipamentos: relacionada à segurança e acesso autônomo e independente das pessoas;
c)      Comunicacional: compreende o uso de comunicação visual, sonora e tátil;
d)      Informacional: compreende o acesso às informações.

Santander Cultural
Umas das questões mais complicadas ao tratarmos a acessibilidade no caso dos museus é que muitos desses espaços encontram-se instalados em prédios tombados pelos órgãos competentes. Essa condição impede a modificação estrutural do ambiente, dificultando tornar acessível aquele espaço. Alguns museus adotam estratégias alternativas, como o Santander Cultural, em Porto Alegre, que possui uma entrada lateral. No entanto, pode haver críticas com relação a essa prática, pois algumas pessoas poderiam se sentir incomodadas em ter que entrar por esse acesso, acreditando que todos devem acessar o prédio pela porta da frente.

Encontramos em muitos museus a falta de mobiliário adaptado, tanto para o desenvolvimento de suas atividades administrativas, como para o atendimento de deficientes. Sua iluminação é insuficiente e falta sinalização visual, sonora e Braile. Seu corpo funcional, levando-se em conta que é um espaço de cultura e cidadania, deveria estar apto para realizar atendimento em Língua Brasileira de Sinais (Libras), mas geralmente não está. As dificuldades acima citadas decorrem, em parte, do descaso dos governantes para com os museus e do pequeno repasse de verba para a manutenção e melhoria desses ambientes. Por esse motivo é que os museus, principalmente os públicos, encontram-se em condições distantes dos ideais de acessibilidade.


Pensar a acessibilidade
Algo a ser destacado na busca pela acessibilidade dos museus é o potencial dos estudos de público desses espaços, pois através dessas pesquisas podemos averiguar de que modo eles interagem com o ambiente e com os funcionários do museu, identificando quais os pontos fracos dessas interações. Outra ferramenta importantíssima que pode guiar o museólogo é a NBR 9050, norma de 2004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que aborda a acessibilidade às edificações, aos mobiliários, bem como aos espaços e equipamentos urbanos. No entanto, nenhuma dessas ferramentas auxiliará um museólogo que não esteja preparado para lidar com a acessibilidade e, principalmente, que não a tenha como princípio. Nesse sentido, mais do que rampas, elevadores, pisos táteis e lupas, estamos tratando do museólogo enquanto gestor, tendo uma postura profissional que leve em conta a acessibilidade em cada tomada de decisões.

É motivo de orgulho saber que o Brasil está se tornando, pouco a pouco, mais acessível, além de apoiar a construção de sistemas educacionais inclusivos. Nosso país é considerado, segundo o padrão capitalista moderno, como emergente, porém jamais alcançara níveis adequados de desenvolvimento enquanto ainda tiver enraizado em seu interior qualquer forma de exclusão, seja ela física, estrutural, intelectual ou atitudinal.

Tanto os temas inclusão social como acessibilidade são cada vez mais tratados. Parece que apenas no final do século XX e início do século XXI é que esses assuntos começaram a repercutir, tanto na mídia, nas universidades, como na sociedade em geral. Apenas agora começamos a pensar nos deficientes como cidadãos que têm direito e necessitam efetivamente pertencer à sociedade. O museu, como uma instituição de circulação de informação, reflexão e produção de conhecimento, não pode ignorar essa questão. O museólogo, enquanto agente difusor da cultura, deve compreender a inclusão social e lutar pela sua disseminação.


REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 9050 – Acessibilidade a Edificações, Mobiliário, Espaços e Equipamentos Urbanos. 2. ed. Rio de Janeiro, 2004.

BRASIL. Viver Sem Limite: plano nacional dos direitos das pessoas com deficiência. 2011. Disponível em: <http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/app/sites/default/files/arquivos/%5Bfield_generico_imagens-filefield-description%5D_0.pdf>. Acesso em: 07 nov. 2013.

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