O artigo Festas
Étnicas, Memória e Patrimônio Cultural: informações sobre a Oktoberfest nos
sites oficiais de divulgação do evento, de Valdir Jose Morigi, Maria
Madalena Zambi de Albuquerque e Luis Fernando Herbert Massoni aborda a Oktoberfest, festa popular de origem
germânica. O texto destaca as relações entre a festa, produto da cultura
popular, e a cultura midiática, representada através dos sites oficiais de divulgação das Oktoberfest das cidades de Blumenau (Santa Catarina) e Santa Cruz
do Sul (Rio Grande do Sul). Os autores partem dos pressupostos teóricos da
cultura popular e discutem a forma como a etnicidade é tratada nos sites de divulgação do evento. O estudo
foi realizado durante o primeiro semestre de 2013, guiando-se pela análise de
quatro categorias de elementos étnicos: personagens, acontecimento, enredo e
cenários da festa.
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Oktoberfest Santa Cruz do Sul |
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Oktoberfest Blumenau |
Com relação às personagens, os autores
identificaram que há referências à etnicidade alemã em diversas fotografias nos
sites dos eventos. Encontramos as primeiras marcas étnicas das personagens nas
logomarcas das festas, as quais percebemos o chapéu, na festa de Blumenau e
toda a família alemã vestida à caráter representada na oktoberfest de Santa
Cruz do Sul. O texto atenta para os laços familiares pertencentes à segunda
logomarca, a qual se percebe a família
do Fritz e da Frida.
No que tange aos acontecimentos, os autores
percebem que em ambos os sites há a explicação acerca das origens do festejo,
em Munique, na Alemanha. A festa é composta por uma série de eventos, tais como
as competições de tiro ao alvo e a escolha da rainha da festa. O artigo discute
a união entre cultura popular e cultura de massa, ao identificar, no site da Oktoberfest de Santa Cruz do Sul, a presença de artistas com ritmos
musicais diferentes, que não pertencem aos grupos folclóricos tipicamente
germânicos, como O Rappa, Luan Santana, Latino e Naldo. Esse entrelaçamento de
culturas e ritmos remete à noção de cultura híbrida, já discutida nas aulas de
Museologia no Mundo Contemporâneo, em que há a presença de duas culturas
interagindo em um mesmo espaço. O hibridismo cultural é caracterizado pela
confluência de culturas, que já não são mais originais, tendo se modificado com
o tempo e com as interações com outras culturas. É interessante destacar que
essa cultura híbrida não se desenvolve de maneira linear e igual nas duas
cidades, pois o site de Blumenau dá maior ênfase às características étnicas da
festa, enquanto que o site da festa de Santa Cruz do Sul abre espaço para
elementos exteriores, advindos da cultura midiática.
No que se refere ao enredo da festa, os autores
buscaram identificar os temas abordados por ambas as celebrações. Embora a
Oktoberfest seja por si só temática, cada ano há um tema específico tratado. No
ano de 2013, os temas abordam com bastante força os elementos que se referem à
origem étnica germânica das festas. O tema do festejo de Bluemenau é “30 anos
da maior festa alemã brasileira” e de Santa Cruz do Sul é “Festejando Nossas
Tradições”.
Por fim, com relação ao cenário da festa, o artigo
aponta que há, em ambos os sites, referências à arquitetura germânica das
cidades de Blumenau e Santa Cruz do Sul. Em Blumenau, especificamente,
descobrimos a referência ao estilo “enxaimel”. O cenário da festa, como apontam
os autores, também é marcado pelas danças e músicas, sendo que ambos os
ambientes virtuais possibilitam ao visitante navegar pelos links enquanto ouve
as músicas que embalam as festas. Além desses elementos, o cenário da festa
também é composto pelos desfiles de carros alegóricos e a comida.
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Arquitetura Enxaimel |
Especificamente com relação à comida, o texto nos
apresenta alguns alimentos tipicamente alemães, como o Kassler, o Eisbein e o Marreco Recheado. No entanto, como
apontado pelos autores, nada representa tão bem a Oktoberfest como o chope. A
respeito do chope, cabe destacar o hibridismo cultural identificado pelos
autores em uma das fotografias, na qual divisamos um brinde entre dois canecos
de chope, sendo que as suas espumas são das cores da bandeiras da Alemanha e do
Brasil. Essa fotografia, conforme os autores, representa a união entre as duas
culturas.
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Brinde Representando o Hibridismo Cultural da Festa |
PONTOS FORTES, PONTOS FRACOS E DESAFIOS
Um ponto
forte que percebemos nesse uso da internet para a divulgação da festa é que
ela ajuda a romper barreiras espaciais, pois aquela cultura, que até então era
restrita a um local específico – a cidade –, passa a possuir uma abrangência
global, ao poder ser acessada por qualquer pessoa em qualquer lugar do mundo.
Esse fenômeno causa um maior conhecimento da festa que, consequentemente, gera
maior conhecimento sobre a etnia. O alcance global da etnia representa,
indiretamente, uma oposição em relação ao mundo em que vivemos, cada vez mais
americanizado.
Um ponto
fraco que podemos identificar na relação que se estabelece entre a internet
e o patrimônio cultural e a memória é que muito comumente, como no caso das
Oktoberfest, o ambiente virtual é utilizado para prospecções financeiras.
Identificamos, por exemplo, uma espetacularização da etnia germânica, utilizada
para chamar atenção dos turistas, que comparecem à festa buscando contato com
aquela cultura, querendo ver as pessoas de peles claras, com roupinhas
pré-definidas, dançando alegremente ao som dos ritmos típicos de sua cultura,
tudo envolta em um ambiente de exploração das características étnicas.
Podemos acreditar que um grande desafio do profissional que trabalha
com cultura, memória e patrimônio é saber articular com essas relações entre as
diferentes culturas, identificando o que realmente faz parte do escopo cultural
de determinado grupo social ou etnia. Para tanto, torna-se necessária a
realização de muita pesquisa, sensibilidade e compreensão da cultura com a qual
estamos trabalhando.
REFERÊNCIAS
MORIGI, Valdir Jose; ALBUQUERQUE,
Maria Madalena Zambi; MASSONI, Luis Fernando Herbert. Festas Étnicas, Memória e
Patrimônio Cultural: informações sobre a Oktoberfest
nos sites oficiais de divulgação do
evento. In: ENCONTRO NACIONAL DE PESQUISA EM CIÊNCIAS DA INFORMAÇÃO, 14., 2013,
Florianópolis. Anais eletrônicos...
Florianópolis: UFSC, 2013. Disponível em: < http://enancib.sites.ufsc.br/index.php/enancib2013/XIVenancib/paper/viewFile/61/382
>. Acesso em: 8 nov. 2013.
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