Em nosso dia a
dia, é comum utilizarmos a palavra “moderno” ao nos referirmos às novas coisas
e fenômenos que surgem ao nosso entorno. Falamos, por exemplo, em objetos com design moderno, roupas modernas, casas e
automóveis modernos e até mesmo em doenças modernas, como estresse e depressão,
decorrentes do estilo de vida característico do “mundo moderno”. Também é comum
utilizarmos a expressão “antigo” ao nos referirmos aos modos de vida, roupas,
bem como os demais objetos e fenômenos de épocas passadas.
Segundo a sua
definição, antigo é o “Que existiu outrora; de tempo remoto; antiquado;
desusado; que sucedeu no passado; que existe a longo tempo; muito velho [...]”
(ANTIGO, 1993). Por outro lado, entende-se como moderno o que é “Relativo aos
nossos dias, aos tempos mais próximos de nós; atual [...]” (MODERNO, 1993).
Nessa concepção, devemos pensar que a diferença entre aquilo que é moderno e
aquilo que é antigo é a sua época de ocorrência.
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| Marshall Berman |
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| Zygmunt Bauman |
Porém, o que
percebemos é uma aceleração do tempo, no sentido de que mais fatos ocorrem e
criamos mais coisas em um período de tempo cada vez menor, sendo que isso
obviamente torna mais curto o tempo para que algo se torne obsoleto, sendo que
essa é uma das características do mundo moderno. Bauman (2003) chama a isso de
modernidade líquida, ao comparar o estágio em que vivemos com as propriedades
dos líquidos: são fluídos, inconstantes, se transformam com frequência, sempre
se moldando facilmente às mais diversas condições a que são expostos. Os
líquidos não suportam a passagem do tempo.
Todas essas
mudanças em um curto período de tempo nos dão a impressão – muitas vezes
satisfatória, outras nem tanto - de que somos os únicos e que a nossa época nos
diferencia. Berman (1986, p. 15), ao discutir a modernidade, afirma que “As pessoas
que se encontram em meio a esse turbilhão estão aptas a sentir-se como as
primeiras, e talvez as últimas, a passar por isso [...]”. Essa sensação talvez
nos torne um pouco egocêntricos – um pouco perdidos no tempo e no espaço, mas
egocêntricos.
Percebemos esse
egocentrismo ao empregarmos as palavras “moderno” e “antigo”, pois às vezes
atribuímos um sentido pejorativo ao que é antigo e valorizamos o que é moderno.
Desse modo, “moderno” é muitas vezes símbolo de virtude e “antigo” é tido como sinônimo
da presença de defeito ou inadequação. Por exemplo: a primeira empresa utiliza técnicas modernas de irrigação; a segunda empresa
utiliza técnicas antigas de irrigação. No sentido real dessas expressões, o
que estamos dizendo é que a primeira empresa utiliza uma técnica atual,
enquanto a segunda emprega uma técnica de uma época passada. No entanto, muitos
de nós, ao lermos essas frases, temos a tendência de subentender que a técnica
moderna é melhor do que a técnica antiga.
Incorremos a
esse equívoco conceitual devido ao fato de demonstrarmos fascinação pelo que é
moderno, pois acreditamos que aquilo que é do nosso tempo é sempre melhor,
consideramos a nossa época uma referência, como se realmente o mundo apenas
melhorasse com o tempo! Devemos pensar que o conceito de moderno se refere a
algo novo ou inusitado com o qual nos deparamos, e que está relacionado ao
tempo em que vivemos. O que é moderno só é moderno se analisado sob a
perspectiva de uma determinada época. Portanto, o que é antigo hoje um dia já
foi moderno, bem como o que é moderno hoje, um dia será antigo. Porém, para
entendermos essa relação, devemos compreender que nós não somos o padrão de
referência em modernidade. Apenas somos, por
enquanto, os mais modernos, pois o que se entende como sendo moderno é algo
mutável, que varia de acordo com o tempo.REFERÊNCIAS
ANTIGO. In: Dicionário Brasileiro Globo. 30. ed. São Paulo: Globo, 1993.
BAUMAN, Zygmunt. Ser Leve e
Líquido. In: Modernidade Líquida.
Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
BERMAN, Marshall. Modernidade
Ontem, Hoje e Amanhã. In: Tudo que é
Sólido Desmancha no Ar: a Aventura da Modernidade. São Paulo: Companhia das
Letras, 1986.
MODERNO. In: Dicionário Brasileiro Globo. 30. ed. São Paulo: Globo, 1993.



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