domingo, 1 de setembro de 2013

(RE)PENSANDO O MODERNO E O ANTIGO



Em nosso dia a dia, é comum utilizarmos a palavra “moderno” ao nos referirmos às novas coisas e fenômenos que surgem ao nosso entorno. Falamos, por exemplo, em objetos com design moderno, roupas modernas, casas e automóveis modernos e até mesmo em doenças modernas, como estresse e depressão, decorrentes do estilo de vida característico do “mundo moderno”. Também é comum utilizarmos a expressão “antigo” ao nos referirmos aos modos de vida, roupas, bem como os demais objetos e fenômenos de épocas passadas.
           
Segundo a sua definição, antigo é o “Que existiu outrora; de tempo remoto; antiquado; desusado; que sucedeu no passado; que existe a longo tempo; muito velho [...]” (ANTIGO, 1993). Por outro lado, entende-se como moderno o que é “Relativo aos nossos dias, aos tempos mais próximos de nós; atual [...]” (MODERNO, 1993). Nessa concepção, devemos pensar que a diferença entre aquilo que é moderno e aquilo que é antigo é a sua época de ocorrência.


Marshall Berman
 Na concepção de Berman (1988, p. 15), “Ser moderno é encontrar-se em um ambiente que promete aventura, poder, alegria, crescimento, autotranformação e transformação das coisas ao redor – mas ao mesmo tempo ameaça destruir tudo o que temos, tudo o que sabemos, tudo o que somos.” Nesse viés, podemos interpretar que não existe uma época do moderno, pois ao longo da história, sempre nos deparamos com momentos de aventura, poder, alegria, crescimento, autotransformação e transformação das coisas ao redor. Obviamente, esse processo de mudança também geralmente significou uma quebra do modelo vigente, ou seja: algo novo surge e o seu antecessor se torna obsoleto. Enfim, estamos (e sempre estivemos) em constante transformação.


Zygmunt Bauman
Porém, o que percebemos é uma aceleração do tempo, no sentido de que mais fatos ocorrem e criamos mais coisas em um período de tempo cada vez menor, sendo que isso obviamente torna mais curto o tempo para que algo se torne obsoleto, sendo que essa é uma das características do mundo moderno. Bauman (2003) chama a isso de modernidade líquida, ao comparar o estágio em que vivemos com as propriedades dos líquidos: são fluídos, inconstantes, se transformam com frequência, sempre se moldando facilmente às mais diversas condições a que são expostos. Os líquidos não suportam a passagem do tempo.


Todas essas mudanças em um curto período de tempo nos dão a impressão – muitas vezes satisfatória, outras nem tanto - de que somos os únicos e que a nossa época nos diferencia. Berman (1986, p. 15), ao discutir a modernidade, afirma que “As pessoas que se encontram em meio a esse turbilhão estão aptas a sentir-se como as primeiras, e talvez as últimas, a passar por isso [...]”. Essa sensação talvez nos torne um pouco egocêntricos – um pouco perdidos no tempo e no espaço, mas egocêntricos.

Percebemos esse egocentrismo ao empregarmos as palavras “moderno” e “antigo”, pois às vezes atribuímos um sentido pejorativo ao que é antigo e valorizamos o que é moderno. Desse modo, “moderno” é muitas vezes símbolo de virtude e “antigo” é tido como sinônimo da presença de defeito ou inadequação. Por exemplo: a primeira empresa utiliza técnicas modernas de irrigação; a segunda empresa utiliza técnicas antigas de irrigação. No sentido real dessas expressões, o que estamos dizendo é que a primeira empresa utiliza uma técnica atual, enquanto a segunda emprega uma técnica de uma época passada. No entanto, muitos de nós, ao lermos essas frases, temos a tendência de subentender que a técnica moderna é melhor do que a técnica antiga.


Incorremos a esse equívoco conceitual devido ao fato de demonstrarmos fascinação pelo que é moderno, pois acreditamos que aquilo que é do nosso tempo é sempre melhor, consideramos a nossa época uma referência, como se realmente o mundo apenas melhorasse com o tempo! Devemos pensar que o conceito de moderno se refere a algo novo ou inusitado com o qual nos deparamos, e que está relacionado ao tempo em que vivemos. O que é moderno só é moderno se analisado sob a perspectiva de uma determinada época. Portanto, o que é antigo hoje um dia já foi moderno, bem como o que é moderno hoje, um dia será antigo. Porém, para entendermos essa relação, devemos compreender que nós não somos o padrão de referência em modernidade. Apenas somos, por enquanto, os mais modernos, pois o que se entende como sendo moderno é algo mutável, que varia de acordo com o tempo.

REFERÊNCIAS


ANTIGO. In: Dicionário Brasileiro Globo. 30. ed. São Paulo: Globo, 1993.

BAUMAN, Zygmunt. Ser Leve e Líquido. In: Modernidade Líquida. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.

BERMAN, Marshall. Modernidade Ontem, Hoje e Amanhã. In: Tudo que é Sólido Desmancha no Ar: a Aventura da Modernidade. São Paulo: Companhia das Letras, 1986.

MODERNO. In: Dicionário Brasileiro Globo. 30. ed. São Paulo: Globo, 1993.

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